Em vários estados,
sindicatos de Professores novamente fazem greves para cobrar melhores
salários. Como em toda a paralisação, o risco é que o movimento se
arraste por um longo período e, ao final, a reposição das aulas, quando
houver, seja precária. Os Alunos, como sempre, são os maiores
prejudicados neste caso, e pouco se discute o que eles, razão principal
de a Escola existir, teriam a ganhar caso seus Professores recebessem os
reajustes pedidos.
No curto prazo, estudos mostram que aumentar o
salário Docente tem pouco ou nenhum efeito no desempenho dos
estudantes. Tal constatação, como era de se esperar, é rechaçada por
muitos Professores e sindicatos, que, não raro, reagem a essas
evidências denunciando nelas uma tentativa ideológica de enfraquecer
suas reivindicações. Não se trata, no entanto, de uma conspiração de
acadêmicos para atacar o magistério. A lógica por trás do argumento, em
geral, se aplica a qualquer profissão. Ganhos imediatos na remuneração
de uma categoria não elevam, de forma imediata, a produtividade do
trabalho. Ou, por outro prisma, nenhum empregado se torna mais
qualificado apenas porque recebeu aumento.
Há quem conclua,
diante dessas evidências, que reajustar o salário dos Professores não
deve ser uma prioridade. Só que o problema maior não está no curto
prazo. Em 2007, um relatório da consultoria McKinsey ficou famoso por
investigar características comuns aos países com melhor desempenho
educacional do mundo. Uma das constatações mais importantes do estudo
foi que, nessas nações, a carreira Docente tinha status e atratividade,
entre outras razões, por oferecer um bom salário inicial.
No
Brasil, ocorre justamente o oposto. Após o relatório da McKinsey, um
estudo da Fundação Lemann, coordenado por Paula Louzano, mostrou que o
perfil dos matriculados em cursos de pedagogia era, em geral, de Alunos
que estudaram em Escolas públicas, de menor renda, e de pais com menor
Escolaridade. Em 2009, uma pesquisa das fundações Victor Civita e Carlos
Chagas também mostrou que um terço dos Alunos do Ensino médio chegou a
cogitar seguir a carreira Docente no Brasil, mas no fim das contas só 2%
efetivamente continuaram com esse objetivo. Entre os que desistiram, a
maior parte, 40%, citava a baixa remuneração como o motivo.
Hoje,
segundo pesquisas levadas a cabo pelo IBGE, o magistério segue sendo a
carreira universitária de pior remuneração. Em 2012, a renda média de um
Professor de Ensino médio correspondia a 70% do recebido, também em
média, pelos demais profissionais com nível superior completo.
A
situação já foi pior. Em 1995, essa proporção era de 51%. Os dados do
IBGE mostram também que essa desvantagem dos Professores em relação às
demais carreiras universitárias aumenta à medida que o profissional vai
ficando mais velho.
Pagar melhores salários aos Professores não é
simples, custa caro, e certamente não pode ser a única estratégia para
melhorar a qualidade do Ensino. No entanto, faz sentido no longo prazo.
Resta a dúvida se a banalização das greves, frequentemente incapazes de
mobilizar a categoria e atrair a simpatia da opinião pública, são mesmo o
melhor meio para atingir esse objetivo.
http://oglobo.globo.com/
Fonte: O Globo (RJ) - Antônio Gois
quinta-feira, 5 de junho de 2014
SALÁRIOS E QUALIDADE
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
0 comentários :
Postar um comentário