Não é raro ver a postura
dos filhos mudarem diante da escola ao chegarem aos 12 anos. Em alguns
casos, o rendimento cai, a lição de casa passa a ser uma tortura. Há até
quem se recuse a frequentar as aulas. Por trás da alteração, podem
existir situações pontuais que estão fazendo o jovem perder o interesse
pelo colégio.
Há cerca de dois anos, A.O, 49, mãe de B.O, 13,
mudou-se para um apartamento que ficava a apenas cinco minutos de uma
escola. Era a possibilidade de o filho ter a liberdade de ir a pé para
as aulas e voltar sozinho.
"No início, ele gostou da ideia, mas,
depois de dois meses, passou a fingir que entrava na escola, escondia-se
e, quando eu saía para trabalhar, voltava para casa. Fui alertada pelo
porteiro do meu prédio", conta a mãe.
A primeira iniciativa foi
conversar com o garoto e com os responsáveis na escola. Ficou decido que
ele voltaria a frequentar a instituição. Mesmo insatisfeito, ele
concordou. Cerca de um ano e meio depois, um aluno passou a
ridicularizar toda a classe, incluindo B.O. O garoto desmontou a
carteira dele para que, quando sentasse, levasse um tombo. Resultado: a
sala toda riu da situação. Bastou para que B.O mudasse seu comportamento
de novo.
"No final do ano passado, me chamaram para uma reunião e
disseram que meu filho estava muito estranho e que precisava ir a um
psicólogo. Em uma conversa, perguntei o que estava acontecendo, mas ele
travou. Nunca mais entrou na escola nem para buscar os livros e as
outras coisas dele", diz a mãe.
Desde outubro de 2012, B.O está
com acompanhamento psicológico e deverá ser encaminhado a um psiquiatra.
O motivo exato ainda não foi detectado, mas a "vergonha" que o colega
de classe o fez passar está entre os motivos que o fizeram perder o
interesse de frequentar a escola.
Outro exemplo é o caso de
A.C.A, 13. Desde o ano passado, a jovem passou a demonstrar insatisfação
com as aulas de educação física. Como não queria dividir com a família o
que estava acontecendo, sempre que havia aula, inventava mal-estares.
No
ano passado, fez vários exames de saúde para que descobrissem o que ela
tinha. De todos os testes feitos, nenhum apontou qualquer problema. No
início do ano letivo de 2013, ela revelou que não gostava da professora
de educação física e que tinha pavor das aulas.
Depois de muita
conversa na escola e busca por terapia, ficou decido que ela mudaria de
colégio. Ninguém sabe o que, de fato, a garota vivenciou nas aulas da
disciplina. De acordo com sua mãe, C.R, 33, algo deve ter sido dito que a
deixou tão constrangida a ponto de ter crises de ansiedade nas noites
que antecediam os dias em que teria essa matéria.
Histórias como
essas não são raras. Muitas vezes, os jovens passam por situações de
conflitos em sala de aula, mas poucas vezes elas se tornam conhecidas
pelos pais ou pela escola. E só aparecem em momentos extremos. É bom
ressaltar que nem sempre esses conflitos estão relacionados a um
acontecimento específico. Às vezes, o desânimo se dá pelo próprio fato
de precisar estudar.
A entrada na adolescência
A própria idade
é uma questão a ser ressaltada. A partir dos 12 anos, o corpo muda, a
mente muda. É um período que marca a entrada na adolescência e a
puberdade. "É a fase da transformação física. A mente continua de menino
e menina, mas o corpo, não. Isso causa um desencontro entre o universo
social e o biológico", declara o professor Lino de Macedo, do
Departamento de Psicologia da Aprendizagem, Desenvolvimento e
Personalidade da USP.
Segundo Macedo, nessa fase, o núcleo
familiar deixa de ser o porto seguro, e o jovem passa a valorizar mais a
convivência com o meio social escolar.
Por isso, é muito comum,
por conta da identificação com os colegas, o quadro de um aluno educado,
estudioso, mudar. Ele passa a demonstrar certa rebeldia e começa a
assumir gostos parecidos com os do grupo. Tudo isso faz com que
diferentes conflitos sejam despertados.
"Crescer causa dor",
afirma a psicóloga e psicopedagoga Augusta Carvalho, especialista em
adolescente. É um momento cercado de muita contradição e insegurança. "O
adolescente tem medo dessa situação. Por isso, muitas vezes, perde o
interesse pela escola para poder vivenciar por mais tempo sua condição
de criança. Cria-se uma batalha interna entre o abandono da infância e o
enfrentamento da realidade do mundo adulto", fala.
A identidade
fica muito confusa. "O jovem não quer ficar em casa, não quer regras nem
limites, não quer ir para a escola, não quer ir para o inglês. Nessa
fase, o adolescente cria uma hostilidade frente aos pais e ao ‘mundo‘,
que, em geral, se manifesta por meio da desconfiança e da ideia de não
ser compreendido.
É comum que use desculpas como "o professor de
matemática está me perseguindo", "a professora de química não sabe
explicar", "a orientadora não entende o que eu falo". A culpa é dos
outros, não dele.
Com todos esses conflitos internos, ao
enfrentar o mundo adulto, que inclui aprendizagem, educação e regras, o
jovem costuma reagir com incompreensão e certa revolta,
desinteressando-se pela escola, que é o seu primeiro modelo de sociedade
organizada.
Sinais
As notas e a falta de ânimo para fazer a
lição de casa e ir à aula são demonstrações claras de que o ambiente
escolar –ou os estudos– não estão estimulando o adolescente. A questão é
que nem sempre os filhos explicam para os pais o que está acontecendo.
"Se
estivar acontecendo algo relacionado aos colegas –como ser vítima de
brincadeiras ou ter dificuldade para se enturmar–, às vezes, o
adolescente não fala por vergonha ou mesmo por medo de os pais irem à
escola. Situação que, para ele, poderia causar constrangimento", afirma
Miriam Barros, psicodramatista e terapeuta familiar, da Sociedade de
Psicodrama de São Paulo.
De qualquer forma, o principal a fazer é
criar, em casa, um ambiente confortável e seguro para que seu filho
sinta-se à vontade para contar o que está acontecendo. Propor um diálogo
mais aberto é essencial. "Na correria do dia a dia, nos poucos momentos
em que estamos com os filhos, fazemos cobranças. E isso acaba virando
uma rotina. Além das exigências, os pais acabam não desenvolvendo outro
tipo de conversa, e os filhos acabam se afastando", diz Miriam.
Para
quebrar esse hábito, é importante ter momentos divertidos e de
parceria, como sair para tomar um lanche, criar situações em casa que
fujam da rotina, proporcionar conversas mais descontraídas. "São nessas
horas que os filhos revelam alguma coisa que, de outra forma, não
falariam", fala a especialista.
É importante que o jovem sinta
que os pais fazem parte da vida deles. "Mesmo que não estejam presentes
em tempo integral, a presença afetiva pode acontecer. O jovem saber que,
mesmo à distância, os adultos estão preocupados e se importando com ele
faz com que se sinta seguro para se abrir", declara a professora e
psicanalista Marcia Nader, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em
Psicanálise e Educação da USP e autora do livro "Déspotas Mirins – O
Poder nas Novas Famílias" (Ed. Zagodoni).
Lembre-se que ouvir e
promover um diálogo não significa que você vai fazer o que seu filho
quer. "Abrir para uma conversa significa que você está do lado do seu
filho e que, juntos, podem buscar soluções", diz a psicanalista.
Aplicar
castigos não é o ideal –coisa que, na prática, muitas vezes acaba
acontecendo. "Quando o filho não quer fazer algo que os pais desejam, o
resultado é um choque entre os dois lados. Sendo assim, cabe aos adultos
dar o primeiro passo para acabar com a guerra, promovendo uma abertura
em que seja possível explicar os pontos positivos e negativos daquela
situação", fala Miriam.
Tipo de escola
Segundo a psicopedagoga
Augusta, cada escola tem a sua cultura e seu processo educacional e os
pais devem procurar, na medida do possível, combinar esses elementos com
o perfil do próprio filho. "Se o seu filho for tímido, por exemplo,
seria interessante estudar em uma escola mais liberal. Se ele não tem
limites, uma escola mais rígida poderá ajudá-lo", afirma a especialista.
De
todos os fatores citados, quando algum deles se torna insuportável e
faltar na escola vira um hábito, algo está acontecendo. Nesse caso,
procurar orientação profissional pode ajudar o adolescente e os pais a
compreenderem a situação. "Existem casos em que o jovem se sente mais à
vontade para se abrir com alguém que ele não conhece", diz Miriam.
E,
se for o caso, trocar de escola pode ser uma solução. "A família deve
compreender que, eventualmente, é melhor uma troca de escola do que
submeter o adolescente a um ambiente que não lhe é adequado. Para isso, é
necessário, às vezes, experimentar mais de uma instituição, para
encontrar alguma que se aproxime mais dos desejos do adolescente e de
sua família", diz Augusta.
http://educacao.uol.com.br/
Fonte: UOL Educação
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
COMO LIDAR COM O ADOLESCENTE QUE NÃO QUER IR À ESCOLA
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