Gerenciar escolas como se
fossem empresas pode parecer controverso, mas há especialistas que
defendem a alternativa como forma de aumentar o desempenho dos alunos.
Um trabalho desenvolvido por Priscilla Albuquerque Tavares, pesquisadora
na área de economia da educação da Fundação Getulio Vargas (FGV),
constatou que a inclusão de práticas gerenciais nas instituições de
ensino pode ter impactos positivos no desempenho dos alunos. A
pesquisadora defende que a escola não pode ser considerada diferente de
outras organizações, por isso precisa estabelecer metas e estratégias -
ideia que não agrada a todos os estudiosos da área.
A pesquisa
analisou um programa piloto de gestão implantado em 200 escolas públicas
estaduais de São Paulo, que incluiu práticas como capacitação
administrativa aos gestores, elaboração de diagnósticos, monitoramento
de performance e fixação de objetivos para indicadores relacionados ao
aprendizado. Os resultados mostraram um aumento de seis pontos na escala
de proficiência dos estudantes, o que equivale a elevar o aprendizado
típico do aluno médio em quase 40%.
Entre os fatores associados à
qualidade da gestão escolar está a formação acadêmica dos diretores,
que, em geral, é somente pedagógica, e não administrativa. "Não quero
dizer que um pedagogo não tenha condição de gerir uma instituição,
porque ele conhece educação, e isso é essencial. O problema é não ter
perfil gerencial", esclarece Priscilla. A pesquisadora argumenta que,
quando isso acontece, a instituição corre o risco de não se tornar
objetiva, ou seja, pode estabelecer uma meta, mas não definir como
cumpri-la.
Para Priscilla, um bom gestor é aquele que conhece os
indicadores da sua escola e traça estratégias para melhorá-los. "A
impressão que tenho é que há diretores que não sabem avaliar os
principais problemas e não conhecem a real situação de suas
instituições", afirma. Ela menciona o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), por exemplo, que oferece indicadores e metas que
os gestores nem sempre têm clareza de como atingir.
A
pesquisadora pondera, contudo, que uma das principais queixas dos
diretores consiste em que os secretários de Educação, muitas vezes,
estabelecem projetos e impõem objetivos, mas não apontam caminhos para a
resolução dos problemas. A mudança de governos e, consequentemente, de
gestores, também pode dificultar a manutenção de projetos em longo
prazo. Além disso, as metas gerais impostas pelo órgão podem não se
adequar totalmente ao cenário encontrado em uma escola específica.
Contraponto
Mas
tratar diretores de escolas como administradores de empresas não é a
solução indicada por todos os estudiosos. Pesquisador do Núcleo de
Políticas Educacionais e coordenador do curso de pedagogia da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ângelo de Souza se opõe a essa
visão e acredita que a face administrativa do gestor escolar é a de
menor importância entre suas funções. "A administração de uma escola não
é igual a de uma empresa, é uma ação de natureza pedagógica. A decisão
do gestor não precisa, necessariamente, se basear numa eficácia de
acordo com técnicas administrativas, mas sim em interesses do público ao
qual atende", enfatiza.
O professor discorda, ainda, que um
gestor escolar precise, necessariamente, ter conhecimento amplo em
administração. "O que se espera de um bom diretor não é técnica
administrativa, mas sim que seja alguém equilibrado, de bom senso, com
boa formação pedagógica. Essas são características de natureza
ético-política", afirma, enfatizando que a técnica básica para gestão
pode ser aprendida com algum estudo e dedicação. Priscilla, por outro
lado, indica que a situação poderia ser corrigida com a inclusão de
conteúdos administrativos nas faculdades de pedagogia, ou com cursos
específicos promovidos pelas secretarias de Educação.
Souza
acrescenta que os casos de gestão mais bem-sucedidos são aqueles em que o
pedagogo possui perfil de liderança, mas cria um clima organizacional
acolhedor, aberto ao diálogo e à participação de alunos, professores e
comunidade. "Escolas com gestão democrática têm alunos com melhores
resultados", avalia.
Investimento ou gestão?
O economista e
ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega acredita que o mau desempenho
brasileiro em rankings como o Programa Internacional de Avaliação de
Alunos (Pisa, na sigla em inglês), que avalia os índices educacionais de
65 países - em 2009, última edição divulgada, o Brasil ficou em 53º
lugar - não se devem a baixos investimentos no setor, mas sim à má
gerência dos recursos obtidos. Para o pesquisador Souza, por outro lado,
o País padece dos dois problemas: falta de investimentos e má gestão de
recursos na educação.
Nóbrega rebate com um preceito econômico:
os bancos não emprestam dinheiro a quem já está endividado, ou seja,
para ele, não se deve aumentar os recursos financeiros em estruturas que
não estão respondendo. O economista acredita que sejam necessárias
metas objetivas dentro das escolas, que levem em conta desempenho e
aprovação de alunos e relacionem isso com a remuneração do professor.
"O
diretor é peça fundamental para uma escola, tanto para o funcionamento
da unidade como no que diz respeito ao aproveitamento dos alunos,
influenciando a condução dos trabalhos pedagógicos. Ele é um líder, não
pode ser qualquer um, escolhido por ser amigo de político", defende
Nóbrega.
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terça-feira, 18 de junho de 2013
ESTRATÉGIA DE GESTÃO NA ESCOLA PODE MELHORAR DESEMPENHO DOS ALUNOS
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